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Vulnerabilidade – A Chave para a Abertura do Coração – PARTE 02

6 Abril, 2023

Na Astrologia a representação da Vulnerabilidade é dada com a Lilith, mais conhecida como Lua Negra: conhecer e estudar o seu posicionamento no mapa astral, ajuda-nos a entender sobre os nossos desejos, os valores que não abrimos mão, e também, os nossos traumas e emoções reprimidas.

Astronomicamente falando, a Lilith não é um planeta, mas sim um posicionamento virtual, que representa a maior distância da órbita da Lua em relação à Terra. A simbologia de Lilith no mapa traz uma energia muito forte, muitas vezes carregada de negatividade, justamente por representar parte do lado obscuro e sombrio do indivíduo. Assim, conhecer a posição em que Lilith se encontra no nosso mapa astral é interessante para obtermos conhecimento a respeito de possíveis bloqueios, pressões ou insatisfações com os quais temos que eventualmente lidar.

Biologicamente falando e duma perspetiva evolucionista, a maior vulnerabilidade é quando sentimos a nossa sobrevivência colocada em risco. A pandemia (Covid19) trouxe isso à tona mais do que nunca, e teve impacto no órgão essencial à vida biológica: o coração - estando ele ameaçado, o nosso corpo biológico morre.

Não é por acaso que o número de problemas cardiovasculares na nossa sociedade tem vindo a aumentar exponencialmente, nomeadamente problemas ao nível do pericárdio, que é um género de membrana que envolve o coração, como que o protegendo. É quando nos sentimos mais vulneráveis que levamos as coisas mais "a peito", como se fosse um ataque ao nosso coração, ao nosso centro vital e de sustentação de vida.

Ao mesmo tempo, o stress e a ansiedade das nossas vidas desenfreadas e sem tempo, estão a ativar cada vez mais o nosso sistema de resposta do Cérebro Reptiliano, com a consequente resposta bioquímica no nosso corpo, mas que biologicamente não cumpre a sua função, pois o perigo à sobrevivência é algo que é sentido como real, mas que no fundo não existe. Isto tem consequências muito nefastas para o corpo biológico.

"Nunca nos sentimos tão vulneráveis por não sabermos ter contacto com a nossa vulnerabilidade!"

A Vulnerabilidade está na origem da Religião.

Diante da perceção dos riscos e da vulnerabilidade do ser, tiveram origem religiões de "entrega" a determinado papel social e de retidão, que adotaram figuras públicas como seus representantes, os Cakravartin.

As religiões de entrega diferenciam-se em ateístas, como Gosala, que entendia que as pessoas deviam fazer apenas o que lhes dava prazer; e nas teístas, obedecendo a deuses que estão no ambiente, como no Vedanta, ou ajustando-se aos que habitam dentro dos corpos, no caso do Tantra. As religiões da retidão apresentam-se desde as mais severas (Jainismo) até as mais brandas, que são fundamentadas no conhecimento do Cosmos (Yoga) ou no desapego, como ocorre no Budismo.

"Seja qual for o sofrimento que surja, todo ele possui o desejo como fonte; pois o desejo é a raiz do sofrimento."

Todas as tradições budistas contam que Sidarta Gautama, mais conhecido por BUDA, praticou um tipo de meditação que envolvia os quatro jhanas, ou estágios de absorção mental:

  1. Cessação dos desejos dos sentidos e "estados mentais prejudiciais, acompanhados de pensamento e ponderação; bem-estar resultante do desapego";
  2. Cessação de pensar e ponderar, desenvolvimento de tranquilidade e concentração; bem-estar resultante da concentração;
  3. Cessação do prazer em favor da liberdade de afetos; equanimidade e atenção plena com facilidade física;
  4. Cessação das sensações de prazer e dor; desenvolvimento de equanimidade livre de alegria e tristeza em plena consciência e pureza.

Para trilhar-se o caminho da Perfeição, deve-se, nas palavras do apóstolo Paulo:

"deixar o homem morrer para que o homem novo possa nascer"
(CI 3:9-10)

Essa é a ideia por trás das palavras de Yeshua Ben Yosef, mais conhecido como Jesus:

"Se alguém quiser vir após de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me"
(Mc 8:34)

Isso significa uma transformação radical simbolizada pela expressão

"morrer para o mundo"
(CI 3:5)

(das ideias que nos foram transmitidas do mundo), o que só pode ser feito atacando as causas e não os efeitos das nossas perturbações mentais. No fundo sermos vulneráveis ...

As nossas ações são efeitos, as causas são nossas atitudes mentais, que desencadeiam pensamentos e emoções que determinam o nosso comportamento. Portanto, são esses estados mentais que devem ser mudados.

O processo de transformação é longo e árduo, porque a personalidade autocentrada resiste por todos os meios a qualquer mudança, erguendo barreiras, apresentando dificuldades, racionalizando sempre com todo o tipo de argumento do porque não pode e não deve mudar.

A minha sugestão de reflexão do simbolismo da crucificação de Jesus está intimamente ligado a este processo de transformação: o caminho da cruz (Via Crucis) mais conhecido como Via Sacra pode muito bem ser vista como uma série de representações simbólicas e metafóricas das influências do mundo exterior e que tanto condicionam o nosso mundo interior, nos distanciando dele, pois o que sentimos dentro de nós face ao que veio, vem e poderá vir de fora, é desconfortável e isso manifesta-se primariamente no nosso corpo biológico e nas sensações nele provocadas por esses estímulos.

É fundamental ter consciência das sombras, mas isso não é cura/transformação. Não é só ter "consciência de", mas também é ter "consciência para". É necessário a pessoa ir experimentando e percebendo de que forma é que essa consciência das sombras se exprime no corpo.

Não será a imagem da crucificação de Jesus, uma forma simbólica, metafórica, alegórica a esta experiência do nosso ser como um todo, com o seu lado sombra, na sua vulnerabilidade, manifestada na sua forma mais humana e como ela se exprime no nosso corpo físico?

No Antigo Egipto há duas partes do antigo templo de Luxor:

  • o templo externo, onde os iniciantes estão autorizados a entrar;
  • e o templo interior onde se pode entrar só depois de comprovado ser-se digno e pronto para adquirir maior conhecimento e insights. 

Um dos provérbios do Templo exterior é "O corpo é a casa de Deus." É por isso que se diz: "Homem, conhece a ti mesmo."

No Templo Interior, um dos muitos provérbios é "Homem, conhece a ti mesmo, assim conhecerás os deuses."

No templo de Apolo (personificação do Sol), em Delfos, na Grécia, os sacerdotes gravaram na pedra duas famosas inscrições. A primeira delas, "Conhece-te a ti mesmo": conheça tudo sobre si mesmo - aconselhavam os sacerdotes do deus da luz. Poderíamos dizer: Conhece especialmente o teu lado escuro.

Na pergunta 919 do “Livro dos Espíritos”, Allan Kardec questionou:

"Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?"

e obtém dos Espíritos a resposta

"Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: "Conhece-te a ti mesmo"".

Ser Vulnerável é entregares-te a ti mesmo, a tudo o que existe dentro de ti, a tudo o que sentes e manifestas, sentindo-te em paz e aceitação, estando em AMOR e PAZ contigo.

Para isso é necessário Humildade: sentimento que reconhece que o sofrimento e as ideias de inadequação pessoal, promovidas pela mente egoísta, fazem parte da experiência humana em geral - algo porque todos passam e não uma coisa que acontece exclusivamente a uma pessoa.

"Só sei que nada sei"

❤️🙏❤️ (continua)

Por Hugo Miguel Fraga
criador do H2H - Heart to Heart method

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